terça-feira, setembro 05, 2006

A indústria


Começa Setembro, abro os jornais e que encontro? Futebol.

A Selecção perde e a FIFA ameaça suspender todas as equipas nacionais das competições europeias. Esta última até fica como notícia de abertura do telejornal da televisão de Estado.

Futebol, sempre futebol. Até uma pessoa gosta do desporto, mas não nestas doses industriais, pois tentar ignorá-lo parece impossível.
E não é um fenómeno só português: veja-se o que aconteceu em Italia, por exemplo.

Talvez seja só um problema de palavras. Se começássemos a utilizar termos adequados talvez fosse mais fácil entender como é que um desporto é assim importante. Talvez porque “desporto” não é a palavra correcta. A palavra correcta é “indústria”, a indústria do futebol.

Como definimos uma sociedade que gera (teoricamente) milhões de euros de lucros, que convence o cidadão a comprar os seus produtos, que tem accionistas, que se publiciza? Esta é um indústria, não um clube desportivo.
E alguém acha que uma indústria pode deixar que o seu balanço seja
influenciado só pelo rolar duma bola? Afinal estamos sempre a falar de milhões de euros. Onde há dinheiro há poder. E onde há poder a política tenta infiltrar-se. E começam os problemas.

Tudo seria mais simples se falássemos de “indústria futebol” em vez que de desporto.
Numa indústria não há lugar para políticos: os Loureiros, os Madails seriam substituidos por manager, por financeiros.
A ideia de justiça desportiva desapareceria pois as indústrias ficariam sujeitas à justiça civil e penal, tal como qualquer outra sociedade, sem a camuflagem do desporto.
E mesmo a nível de FIFA as coisas mudariam, pois o seu monopólio poderia ser posto em causa, tal como acontece em qualquer livre mercado económico.

Temos que aprender a utilizar as palavras certas. Seria tudo mais cru, é verdade, mas também mais real; pois o futebol deixou de ser desporto há muito tempo.
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