sexta-feira, julho 07, 2006

R.I.P.


Já não há nada fácil. Nem com os mortos.

Olhamos o que acontece com o túmulo de D. Afonso Henriques: o coitado está a gozar do merecido descanso quando uma investigadora pensa que não seria mal uma visita. Não um check up, pois o facto de El Rey ter morrido está fora de questão; mas uma análise aos ossos, útil para melhorar os conhecimentos acerca dos hábitos dos tempos idos.

Uma boa ideia? Nem por isso.
A pobre investigadora pensa ter feito tudo da melhor forma: angariar fundos privados, encomendar equipamentos sofisticados, contactar especialistas, avisar as autoridades competentes.
Quando já o túmulo se encontra meio aberto, eis o golpe de cena: alguém, no Ippar (Instituto Português do Património Arquitectónico), esqueceu de avisar o Ministério da Cultura.
Agora vai ser aberto um inquérito para apurar as responsabilidades. Quem não avisou o Ministério?

Resposta: isso não interessa, ao não ser de forma marginal. É normal que a burocracia seja um travão, é normal neste País. E um inquérito não vai resolver o problema, caso consiga resolver algo.

A pergunta é outra: as operações para a abertura da tumba não foram feitas às escondidas, era só pegar num qualquer diário que não fosse “A Bola” para estar a par dos acontecimentos. Porém o Ministério não se mexeu, o que me deixa (moderadamente) surpreendido.

O Público de hoje: “A ministra da Cultura […] só soube ontem de manhã que o túmulo do primeiro rei de Portugal ia ser aberto pela primeira vez em mais de 170 anos.”
Só ontem? Em cima de qual árvore vive a ministra?
Então, já que alguém foi acordá-la, que tal um fax? Ou uma e-mail, um telegrama? Vista a incompetência do Ippar, porque a ministra não enviou duas linhas imediatas para autorizar a abertura?

Nem por isso. A burocracia tem as suas regras, tal como uma cerimónia, e as regras são feitas para ser respeitadas: começamos com um inquérito, depois vamos ver.
E El Rey? Agora não vai ser possível reconstruir digitalmente o seu rosto. O que se calhar é melhor: imaginem só a expressão de desgosto…
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