terça-feira, julho 11, 2006

Nas caves do CDS

Num precedente post (13 de Junho) defendi o nuclear como uma boa opção para aliviar os problemas energéticos portugueses.

Agora, e infelizmente, o CDS-PP vem a confirmar a triste hipótese segundo a qual neste País é impossível encarar de forma séria o assunto. Vamos ver porquê.

O Diário de Notícias de hoje entrevista Pedro Sampaio Nunes, Vice-presidente deste partido formado, ao que parece, por peritos em tecnologias energéticas. “[...] há o Protocolo de Quioto, que é um desastre para Portugal. Vamos pagar um preço muito caro. Ou re-negociamos a quota ou avançamos para o nuclear”.

Portugal vai pagar um preço muito caro; o que não é explicado é que se trata do mesmo preço que os outros países já pagaram. E é por isso que Portugal é o País da União que mais CO2 deita no ar. Simplesmente, Portugal tem que fazer agora o que os outros já fizeram, isso é, aplicar medidas anti-poluição. Independentemente da questão nuclear.
O que o perito Sampaio Nunes esquece de dizer é que se os governos anteriores (em alguns dos quais estava presente também o CDS-PP) tivessem assumido medidas para reduzir as emissões, agora não seria preciso pensar em re-negociações que não irão resultar. Mas estes são pormenores, vamos em frente.

“Chernobyl é o pior que pode acontecer com uma central nuclear. Mas permitiu desenvolver toda uma série de procedimentos e práticas de segurança que permitem que nunca mais volte a acontecer.”
Ahe? Assim, enquanto exércitos de cientistas de todo o mundo estudam a melhor maneira para reduzir os riscos do nuclear, em Portugal o engenheiro Sampaio Nunes já resolveu o problema. Como? Não conhecemos os pormenores, mas podemos imaginar este subavaliado pesquisador fechado na cave da sede do seu partido enquanto experimenta e descobre medidas para que o nuclear seja totalmente controlado: “Um pouco de cortiça aqui, como isolador, uma ventoinha ali, perto do reactor, para arrefecer...” e pronto, eis a grande afirmação:
“O nuclear é uma energia completamente dominada”.

Agora não resta que esperar: quando o CDS-PP divulgar ao resto do mundo as suas descobertas, as crises energéticas ficarão para os livros de história. Sorte nossa ter vivido tamanha altura.

Mas o maligno jornalista não está ainda convencido e pergunta com a perfídia típica dos ignorantes: “Mas essa garantia pode ser dada?”
O físico Sampaio Nunes: “É uma garantia que eu dou.” Amen.

Resumindo: se estes são os defensores do nuclear, não resta que contactar a Duracell.

Post Scriptum: o CDS anunciou que continuará o ciclo de debates para terminar com umas jornadas sobre a política energética. Não sei porquê, mas não consigo afastar da minha mente a imagem do Patrick Monteiro de Barros...
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