terça-feira, junho 20, 2006

Tem lume?


Este País não é de confiança. Definitivamente.

Uma pessoa espera ao longo de tantos meses e quando finalmente chega a tão desejada “Época dos Incêndios” nada. Sim, houve qualquer coisa durante a semana passada; mas era pouca coisa, um foguinho, não um incêndio a sério.
Onde estão as florestas em chamas, as casa destruídas, as pessoas que choram? Ah, aqueles eram bons tempos. Cada noite era só ligar a televisão para ter um relatório completo acerca dos prejuízos do dia.

Este ano, como dito, nada.
E a coisa esquisita é que ninguém parece reparar nisso. Em vez que perguntar-nos como é que meio País não está a arder, fala-se de futebol. Parece quase que um Portugal sem incêndios seja uma coisa normal.

Os números da Direcção Geral dos Recursos Florestais (http://www.dgrf.min-agricultura.pt/ “Incêndios Florestais 2006 Relatório provisório”) são claros:
em 2006 entre 1 de Janeiro e 31 de Maio houve um total de 783 miseráveis incêndios florestais, enquanto no mesmo período de 2005 os incêndios chegaram a 2.193. Uma queda de quase 60%!
E a área ardida? 4.438ha em 2006, quase o dobro em 2005: 8.787ha. Uma tristeza…

E mesmo é pena pois este ano foi declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação ( http://panda.igeo.pt/ ). Como os incêndios favorecem este último processo, seria lógico participar nesta iniciativa com dedicação, tanto para não fazer uma figura feia frente a outros países. Desde 1991 Portugal é o país com o maior número de incêndios dos 5 no Sul da Europa: mesmo neste ano vamos perder o primeiro lugar?

Onde estão os pirómanos? Gastam o tempo em frente dum ecrã para assistir às proezas de Ronaldo?
E os outros alegados suspeitos: as empresas de aluguer de helicópteros para o combate ao fogo, as que fornecem material anti-incêndio, as de construção civil…como pensam sobreviver neste ano desgraçado? Porque nada fazem?

E os meios de comunicação?
As televisões, por exemplo. Não explicam o que se passa e a atitude não é séria: gozam os bons momentos, deslocam enviados até a lamber as chamas, fazem zoom sobre a cara da velhota em lágrimas, produzem especiais...mas quando os incêndios não deflagram é o silêncio absoluto. Isto não é correcto, pois um cidadão tem o direito de saber o que se passa.

Todos os anos os governos prometiam medidas extraordinárias para enfrentar os fogos do ano seguinte; e pontualmente havia incêndios. Algo falhou neste 2006?

Já sei, já sei. É só esperar. Acabado o mundial os incêndios voltarão. Alguém irá desculpar-se, explicando que a primavera foi demasiado húmida (esquecendo da seca que ao longo do Outono e do Inverno atingiu o País. Lembram-se? “As barragens são vazias, vamos ter falta de água!”). Depois, devagarinho, um fogo aqui, um incêndio ali…e tudo voltará à normalidade.

Mas se é assim gostaria que alguém me tivesse avisado!
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