domingo, junho 04, 2006

Poupar para que?


Portugal é um dos países que mais dependem da importação do petróleo no âmbito da União Europeia; as consequências são evidentes, pois a economia é afectada por uma variável (o preço do crude) que não pode ser gerida pelos governos.

À espera que as energias renováveis cheguem a ser realidade e que expressividade delas seja significativa, seria importante encorajar os cidadãos para atitudes que ajudem o país a reduzir tal dependência, poupando assim na conta energética que cada ano o estado (isso é, nós) tem que gastar.

Uma iniciativa possível no âmbito da viação, sem grandes esforços e, sobretudo, sem recorrer a novos projectos pois a tecnologia para a aplicação já existe, seria a redução dos limites de velocidade; não dos limites previstos pela lei, mas das velocidades realmente atingidas pelos condutores portugueses pois é notório que os valores máximos admitidos não são respeitados. E isto é um facto bastante curioso tendo em conta o termo de “crise” que muitas vezes é utilizado pelo economistas para descrever não só a situação do país em geral mas também das famílias portuguesas.

Talvez seja oportuno apresentar alguns dados.

Pegamos num carro bastante difundido no país, um Volkswagen a gasolina, e fazemos as contas.

O carro em questão, o Polo ultima geração na versão de 1.2 12V (com motor de 1198 cm cúbicos e 64 CV) percorre 17,3 km por cada litro de gasolina a velocidade constante de 100 km/hora. Tendo em conta o depósito com capacidade de 45 litros, temos uma autonomia teórica de 778,5 km.
Com uma velocidade de 130 km/hora o consumo fica na casa dos 11,0 km/l, com uma autonomia reduzida a 495,0 km.
Mas já ultrapassando de 10 km/hora o limite máximo permitido em auto-estrada (isso é, viajando a 140 km/hora) o gasto é de 9,3 km por cada litro de gasolina, o que equivale a uma autonomia de 418,5 km.

Utilizamos estes valores (que são obtidos a velocidades constantes, em condições favoráveis que dificilmente encontramos mesmo numa auto-estrada) hipotizamos uma viagem entre Lisboa e Porto, equivalente a 312 km. O preço da gasolina é igual a 1,398 euro/litro (quotação Galp Super 98 do 29 de Maio de 2006).

Com uma velocidade constante de 100 km/hora serão precisos 18,03 litros de gasolina, com uma despesa de 25,20 euro.
Com uma velocidade de 130 km/hora a mesma distância será percorrida com 28,36 litros de combustível e uma despesa de 39,64 euros.
Viajando a 140 km/hora o carro passará a gastar bem 33,5 litros de gasolina e a despesa atingirá os 46,83 euros.

Resumindo: para chegar ao Porto 20 minutos mais cedo o nosso condutor gastará 5,14 litros de gasolina a mais com um acréscimo de despesa igual a 7,18 euros.

Se tomamos em conta a média de 100 km/hora a diferença é ainda mais substancial: neste último caso serão precisos mais 15,47 litros de combustível, o que se traduz num acréscimo de custo igual a 21,62 euros.

Como referido, os valores apresentados são teóricos e inerentes só aos custos do combustível. Para ser completa, a nossa análise deveria ter em conta outros factores, não último o reduzido número de acidentes que velocidades mais baixas comportariam: menos perdas de vidas humanas, menos custos do estado para a cura dos feridos.

Mas limitamo-nos só aos custos do combustível e multiplicamos os valores de despesas por todos os condutores que viajam não só entre a capital e Porto, mas também nas outras estradas e auto-estradas do país: quantos litros de gasolina (e gasóleo, claro) seria possível poupar num só dia? E se multiplicamos o produto por 365 dias, qual valor atingiria uma tal poupança?

Sobra um problema: “convencer” os condutores portugueses a levantar o pé do acelerador.

A via mais rápida seria a utilização de patrulhas da Brigada de Trânsito para a fiscalização das velocidades de cruzeiro e a eventual penalização em termos de multas.

Acho esta solução muito redutora por duas razões.
Porque as patrulhas da BT existem, sim, mas não em número suficiente para fiscalizar a totalidade do sistema rodoviário nacional.
E, ponto mais importante, porque limitando-se a multar o estado falharia na difusão duma consciência cívica que, a médio e longo prazo, renderia muito mais que não as verbas obtidas com coimas.

Assim como feito para os incêndios, porque não utilizar o meio da televisão para tentar sensibilizar os portugueses? Começamos a difundir a ideia segundo a qual viajar a 100 km/h, por exemplo, não é uma vergonha…
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