terça-feira, junho 13, 2006

Portugal nuclear


Como afirmado num antecedente post, Portugal é um país que importa muita energia e este factor influencia de forma directa ou indirecta as escolhas politicas e económicas. A solução ideal seria tornar Portugal autónomo, isso é, produtor de toda a energia da qual precisa; mas esta é uma utopia, pelo menos a curto e médio prazo. O caminho que pode realisticamente ser percorrido é a diminuição das importações. Como obter este resultado?

Começamos pelos dados. Cerca de 60% da energia que consumimos provém do petróleo (58%, fonte: Direcção Geral de Geologia e Energia, Ano 2005); a seguir (20%) a electricidade; na casa dos 7% o gás natural, 1% o carvão, 14% outras fontes (eólica, por exemplo).

Perante estas percentuais é lógico que nos últimos tempos tenha surgido a hipótese ligada ao nuclear e o semanal “DiaD”, na edição de 12 de Junho, tenta fazer um balanço entre prós e contras, com uma interessante entrevista a Patrick Monteiro de Barros (o mesmo da refinaria em Sines). Se as opiniões deste último não são particularmente relevantes (afinal ele seria directamente envolvido num futuro investimento ligado a uma nova central), o problema de fundo fica: é viável o nuclear em Portugal?

A escolha não é fácil: de um lado existem dúvidas inerentes à rentabilidade desta opção. No outro teremos que enfrentar a oposição de uma larga fatia da população.

A questão do meio ambiente é, de facto, o cavalo de batalha das associações ambientalistas que, cada vez que se fala em nuclear, ressuscitam o fantasma de Chernobyl.

É uma política populista e enganadora, pois seria mais correcto fornecer aos cidadãos dados verdadeiros: os reactores de Chernobyl, assim como o de Three Mile Island (EUA), foram construídos com a tecnologia dos anos ’60/´70 e se consultamos o calendário podemos descobrir que estamos a viver no ano 2006: isso significa que uma eventual nova central seria mais segura (embora nunca “totalmente” segura), pois desfrutaria os novos conhecimentos adquiridos. A Finlândia, por exemplo, aprovou há pouco a implementação de uma nova unidade nuclear, com um reactor de tipo EPR de última geração: alguém pode pôr em causa o profundo sentido ecologista dos finlandeses?

E sempre no que diz a respeito à segurança: é verdade que Portugal não tem centrais nucleares; mas Espanha tem. Acham que um eventual acidente no país vizinho não afectaria a terra Lusa? No acidente de Chernobyl a contaminação do solo com Césio 137 foi relevada em zonas postas a 1.000 km de distância do reactor (fonte: National Geographic Abril de 2006). Agora peguem num mapa da Península Ibérica e façam duas contas. Que vamos fazer? Obrigamos os espanhóis a encerrar as suas centrais?

E como querem resolver estes “amigos da terra” o problema do aumento do consumo de energia que pode vir a duplicar nos próximos 25 anos? Com as aplicações eólicas? Com a biomassa? Com o solar? Pena que a produção de um kw/h de energia com estes meios comporta a libertação na atmosfera de carbono em medida constantemente superior ao nuclear. Mas isto dificilmente é explicado…

Mas a escolha nuclear tem o seu calcanhar de Aquiles também e o seu nome é “custo”.
Quanto custa uma central nuclear? A construção do reactor em si não seria um desafio impossível em termos monetários: os problemas são ligados aos resíduos, a actualização da rede eléctrica (que, actualmente, não poderia suportar uma produção de 1.600 MW) e ao desmantelamento da mesma central no final do ciclo de vida.

Segundo Patrick Monteiro de Barros o investimento total seria de 3,5 mil milhões de euros, incluindo a desmontagem final. São cálculos bastante optimistas, pois ninguém pode calcular ao certo os custos da dita desmontagem (uma verdadeira incógnita), só para fazer um exemplo.
E os resíduos? As soluções encontradas até hoje não são das melhores: usualmente os resíduos são selados e enterrados em locais perto das centrais. Depois é só deixá-los ali para uns 25.000 anos e o jogo está feito.

Juntamos estes custos (alguns conhecidos, como visto, outros nem por isso) e vamos avaliar: o nuclear é rentável, mesmo com o petróleo perto dos 70 dólares por cada barril?

Se calhar a solução para uma energia nuclear viável passa pelas palavras de Luís Mira Amaral, ex-ministro da Industria e Energia (fonte: DiaD, 12 de Junho de 2006): “É muito cara e faz sentido haver uma cooperação ibérica”.
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