quinta-feira, junho 29, 2006

Erc!


O Diário de Notícias de hoje (29/06) traz uma página chocante, a nº 29.

Segundo o Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) o desempenho das emissoras televisivas Sic e Tvi é definido como “pouco satisfatório”.
Mas calma, não se assustem, pois Floribella não vai desaparecer do ecrã: as licenças foram renovadas até 2022.

Então, que se passou? Simplesmente alguém (a ERC) acordou e reparou que as ditas televisões privadas são quanto de pior seja possível encontrar durante um zapping, se não contamos com o canal com o logo da Netcabo.

Mas vamos ler alguns passos deste valioso documento.
A ERC frisa a falta de informação na Sic e a concentração no horário nobre, de segunda a sexta-feira, dos géneros comédia nacional e novelas brasileiras, “com prejuízo da diversidade de géneros nesse horário”. Na Tvi a programação cultural é “praticamente inexistente”.

O que me faz perguntar: qual seria, nas intenções da ERC, a programação cultural da Sic? “Fátima Lopes” (que, segundo o mesmo diário, traz a lume realidades dramáticas, isso é, o seu programa)? “Laços de Família”? “Está na Sic o Mundial”? “New Wave”? “Floribella”? “Sinhá Moça”? “Belíssima”?

Bonita também a expressão utilizada para definir a falta de cultura na Tvi. O advérbio ”praticamente” subentende que algo de cultural afinal há: e seria bom que a ERC dissesse onde também. No “Você na Tv”? No “Anjo selvagem”? No “Quem quer ganha”? No “Morangos com açúcar – Férias de Verão”? No “Tempo de viver”? No “Dei-te quase tudo”? No “Fala-me de amor”? Ah, não, está certo, afinal encontrei a cultura: “Por uma noite”, peça teatral que começa as 00.15.

Se a ERC tivesse um pouco de coragem diria de forma clara que as duas emissoras são uma vergonha e nada mais.

Erro: há algo para acrescentar.
Se a ERC fosse uma coisa séria diria também que a principal culpada é a RTP, o verdadeiro serviço público. Se existisse uma livre escolha por parte do telespectador, mais ousadia da RTP, mais vontade de acabar com os programas para atrasados mentais, talvez as coisas mudassem. Mas quando na grelha da RTP 1 aparecem “Praça da alegria”, “Essas mulheres”, “Portugal no coração”; quando para ver um filme da mesma emissora é preciso esperar até 01.30 (que chamam “Sessão da meia-noite”!); quando a RTP 2 é simplesmente deixada em estado de hibernação; quando tudo isto acontece, então as emissoras privadas não têm problemas em oferecer uma grelha para diminuir o QI dos cerebrinhos portugueses.
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