quinta-feira, junho 08, 2006

Disparates

Ter uma mente simples comporta algumas vantagens. Uma delas é o facto de poder dizer (ou escrever, como neste caso) autênticos disparates sem que nenhuma pessoa fique ressentida, pois esta última pensará “coitadinho, afinal é mesmo um pobre desgraçado…”.

Hoje, por exemplo, encontrava-me no transporte público quando tive uma “iluminação”, isso é, um disparate como antecipado. Objecto do meu delírio era o subsídio de desemprego, um rio de dinheiro que mensalmente o Estado entrega às pessoas que não têm uma ocupação.

O postulado: o Estado somos nós, ergo, cada mês nós subsidiamos os desempregados, coisa boa e justa.
A observação: existem muitas tarefas para ser desenvolvidas, tipo limpeza das matas, das florestas, das praias ou serviços que poderiam ser prestados mas não são por falta de pessoal, coisa má e não justa.
O disparate: porque não utilizar os milhares de desempregados para levar a cabo algumas destas incumbências?

Dito por outras palavras, os desempregados, enquanto esperam por um emprego definitivo, poderiam coadjuvar o Estado no desenvolvimento de algumas tarefas que são precisas.

Isto levaria a uma série de vantagens, primeira das quais o facto de o desempregado não se sentir “inútil” ou objecto de esmola: o sem trabalho receberia uma quantia de dinheiro por prestar um serviço à comunidade toda.

Claro, seriam precisas algumas condições: o trabalho não poderia ser de 8 horas, pois os desempregados têm que ficar com o tempo suficiente para a procura de um emprego fixo. Podemos imaginar umas 3 ou 4 horas por dia?

A seguir: a participação nestes trabalhos não seria voluntária, mas obrigatória. Isso para que os que afirmam que o subsídio, em alguns casos, são uma autêntica sorte; com uma participação nos serviços de utilidade pública os desempregados poderiam demonstrar que não é a vontade de trabalhar que falta.

Enfim: o Estado poderia avaliar o desempenho dos desempregados no desenvolvimento das tarefas atribuídas, passar um atestado de frequência que confirme também a capacidade do sujeito em alcançar os objectivos prefixados, até contribuir na formação do pessoal com apropriados cursos ligados às tarefas desenvolvidas (estes cursos poderiam ser voluntários, sendo basicamente concebidos para as pessoas sem formação específica).

Conclusão: os desempregados poderiam sentir-se verdadeiramente úteis e não excluídos do mundo do trabalho, recuperando uma dignidade que demasiadas vezes fica para atrás. O Estado (isso é, todos nós) receberia uma ajuda substancial no desenvolvimento de tarefas que, em muitos casos, são fundamentais para o bem-estar público (p.e., a prevenção dos incêndios).

Como dito em princípio, um autêntico disparate.
Para boa sorte existem os sindicatos, sempre alerta na defesa dos interesses dos menos favorecidos.
Sem ter em conta outra questão: seria preciso arranjar um governo com a coragem suficiente para avançar com uma medida deste tamanho.
E isto é difícil de imaginar, até por uma mente simples.
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